Por ser uma região cercada de litoral e muitos rios, a Costa do Descobrimento registra, com certa frequência, casos de afogamentos, muitos deles resultando em morte. Nas praias, em geral, pouco se vê a presença de salva-vidas, que deveriam compor os serviços oferecidos pelas barracas e o atendimento prestado pela administração municipal, considerando o dever de zelar pela vida dos banhistas. Apesar da demanda, pouco se fala sobre o assunto e o serviço continua sendo oferecido de forma precária.
Dados do Corpo de 6º Grupamento de Bombeiros Militares, em Porto Seguro, mostram que, no primeiro trimestre de 2018, foram registrados três afogamentos fatais. Em 2019, por enquanto, uma pessoa já morreu nas águas de Porto Seguro. Certamente, esses números, além daqueles envolvendo afogamentos sem morte, poderiam ser menores durante todo o ano, se a presença de salva-vidas fosse uma constante.
De acordo com o Sargento Marcelo Cardoso dos Santos, chefe do Grupo de Mergulho e Operações Aquáticas do Corpo de Bombeiros em Porto Seguro, a responsabilidade de salvaguardar é da prefeitura, mas o Município não dispõe de serviço público de salva-vidas. “Com o efetivo reduzido no Corpo de Bombeiros, só temos como montar equipes em pontos mais propícios a afogamentos, em locais com maior fluxo de turistas e na alta estação. Eles trabalham em rotatividade”. A equipe coordenada pelo sargento atende de Itapebi até Itabela em ocorrências no mar, rios, lagoas e até em poços. Ele afirmou que teria que ter um efetivo de 40 homens só para atender toda a orla.
O sargento explicou ainda, que os riscos de afogamento e o grande fluxo de pessoas são os motivos pelos quais os salva-vidas são vistos com maior frequência nas proximidades das barracas Tôa Tôa, Barramares, Axé Moi e Jubarte. “Não temos vínculo com nenhuma barraca. A nossa análise é feita no dia a dia, verificando o aumento do fluxo de pessoas”, informa. Ele esclareceu ainda que onde há proximidade com braços de rios, como no Barramares, os riscos de afogamento são maiores devido à formação de bancos de areia próximos às valas formadas no curso do rio para o mar, causando uma grande diferença de profundidade.
Serviço particular
Enquanto o Corpo de Bombeiros alerta que é necessário aumentar o efetivo, apesar da demanda, poucas são as empresas que contratam serviço particular de salva-vidas. 15 bombeiros civis e especialistas em salvamento aquático foram formados recentemente por uma empresa privada em Porto Seguro. Eles afirmam que o interesse em contratar o serviço é apenas para o Verão. “Em Porto Seguro, uma barraca ficou um mês conosco e depois parou. Botamos seis salva-vidas em Coroa Vermelha e os empresários não quiseram pagar. Os salva-vidas ainda ficaram por uma semana, tivemos prejuízo e acabamos tirando os homens de lá”, disse Maykow Guimarães, instrutor e responsável serviço.
Para Messias Menezes, coordenador de salvamento aquático, instrutor da Marinha, do Corpo de Bombeiros em Salvador e de Bombeiros Civis em Porto Seguro, o trabalho do salva-vidas não é tratado com a importância devida. “Entramos em contato com várias cabanas de praia e elas não tiveram interesse. A única que teve foi o Tôa Tôa. Já estamos em três meses de trabalho, com ocorrências e com êxito. Infelizmente, em Porto Seguro, a prefeitura também não se incomoda com o trabalho de salva-vidas”, lamenta o instrutor, ressaltando a relevância dos altos índices de morte por afogamentos também nas praias de Santa Cruz Cabrália, Trancoso e Arraial d’Ajuda.