Para a amiga que fui um dia

Lorena Bomfim

Não que eu não seja mais, ou que tenha abandonado minhas amizades, longe disso, mas talvez eu não consiga ser mais como já fui um dia, há tantas cobranças para se manter inteira em todas essas funções, que vivo a me fragmentar.

Talvez não consiga mais ser aquela amiga que perdia/ ganhava horas, jogando conversa fora, rindo das coisas mais bobas e sem noção da vida, a amiga sem relógio, a do vamos?! Vambora, estou pronta!

A que levava o bonde, que planejava viagens,  que sempre estava a postos da vela ao funeral!

Ah amiga, se tudo isso te causa estranheza, imagine para mim que mal me reconheço, talvez você também não me reconheça mais e não a culpo, pois até eu por muitas vezes procuro aquela menina que você conheceu.

A das noites de comédia romântica, regada a choro, brigadeiro, pipoca e muitas teorias, a dos cadernos de recordação, confidências, textos, a dos carnavais.

Muitas vezes em meio a rotina procuro por essa moça que fui, confesso que não tenho êxito, nem as fotografias conseguem essa conexão, pois aquela das fotos do passado não representa mais quem você é, me atrevo a dizer que não representa mais ninguém, ela se perde conforme o tempo e evolução.

Ah o tempo, até tento desenrolar, para um sinal de vida dá, perguntar como está, sobre o seu novo crush, pedir dicas sobre que roupa usar, falar sobre novelas, livros, até sobre o que vamos estudar.

Quase sempre, eu tento transcrever a vida que você me ajudou a pintar, sobre os anseios do que iríamos ser, carreira, que família iríamos formar, entre promessas de uma amizade para vida inteira, sem que nada pudesse mudar.

Ah amiga, a verdade é que isso também se perdeu, que há muito tempo aquele eu não era mais eu e essa promessa do nada mudar jamais se cumprirá,

Eu até tentei não falhar, seguir com presenças, clareza, certezas, em meio a esses dias e noites que se confundem e não dá para saber se acabaram de começar ou terminar.

Enfim eu percebi que a vida foi feita para caminhar e que esse caminho não tinha volta e esse novo eu tinha acabado de começar a trilhar, que eu não estou sozinha, hoje minha vida não é só minha e todo aquele tempo que tinha horas de sobra, agora me viro no que dá!

Onde? Quando? Que lugar? Quanto tempo para chegar? Qual a hora de voltar? Se vai dá para alimentar? Se a soneca vai rolar? São coisas que vivo a questionar!

Cada uma dessas interrogações vive a se ramificar e acredite nunca foi e nunca será porque eu não quis contigo estar. E mesmo quando a distância e o tempo não virem a calhar, serei presença mesmo longe para o que precisar.

E sobre a saudade do que fomos, e de todas as experiências que juntas vivenciamos, da vida descomplicada que de certa forma abandonamos, essa saudade sempre vai rolar, até porque temos momentos lindos para recordar, mas isso não quer dizer que os novos momentos, também saudade não irá deixar.

Realmente a vida mudou, mas isso não assombra também o que nos transformou e daqui de onde eu estou eu te reconheço e seja de longe ou perto, tudo o que nos uniu eu vejo, porque em você, consigo ver com clareza não com tristeza que tudo que a gente viveu, fez essa nova versão do meu eu e sempre quando juntas estivermos, serei sempre a garota que você conheceu.

Assim amiga, tudo que eu vivo hoje, se não viveu, talvez um dia viverá, o dia de que seu bebê no seu colo estará e será a sua vez de se reconectar e com certeza uma coisa nunca irá mudar, esteja de onde estiver eu irei te apoiar sem julgar e mais uma aventura, juntas, iremos compartilhar!


Lorena Bomfim é doula, mãe, educadora perinatal e consultora em amamentação. Escreve sobre os diversos temas do mundo materno infantil, além de lives semanais no Instagram pelo @amadrinhar. (Foto: Reprodução)

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