Em nossa reunião mensal de pauta do Jornal do Sol para esta edição surgiu a pergunta: peraí, mas só vamos falar de coronavírus? Não era essa a intenção, mas quando você percebe, o universo hoje gira em torno dessa pandemia, que chegou impondo novos hábitos, invertendo valores, disseminando o medo, enfim revirando a vida das pessoas. De um dia para o outro acordamos com a ordem de que, a partir daquele dia, ninguém poderia sair de casa para trabalhar, ir ao banco, à igreja, à academia, às festas, à praia, encontrar os amigos, visitar idosos nem familiares, fazer pequenas e grandes coisas.
Passados os primeiros 15 dias, os sinais do isolamento e do fechamento do comércio começaram a aparecer. Nunca se viram tantos pedintes nas imediações das farmácias, mercados e padarias. Explodiu o número de moradores de rua, que passaram a ocupar as marquises, galpões, qualquer cobertura disponível. Aqueles que costumavam ganhar um prato de comida perambulando pelos bares e restaurantes tiveram que recorrer a outros meios para garantir a sobrevivência.
Outra conseqüência, talvez a mais grave de todas com o fechamento do comércio, hotéis e demais atividades turísticas, foram as demissões em massa, colocando, milhares de pais família na fila dos desempregados, sem saber como pagar as contas e garantir o sustento daqueles que dependiam do seu trabalho. Em uma cidade onde o turismo - um dos setores mais atingidos pela crise - girava a roda da economia, do dia para a noite saíram de cena todas as possibilidades de renda da grande maioria da população. Uma engrenagem que não perdoou ninguém, do empresário mais abastado, ao ambulante que garimpava o sustento nas areias das praias e onde mais houvesse a presença de turistas.
Essa situação descortina ainda um grande chamariz para o aumento da criminalidade. Preocupação revelada pelo comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar em entrevista publicada nessa edição do Jornal do Sol. Em um ambiente onde o delivery não é um recurso exclusivo do comércio formal, mas também um sistema utilizados pelos traficantes. E onde pessoas que haviam trocado o mundo do crime pelo mercado de trabalho, se deparam com a tentação de voltar para os braços da criminalidade.
Para muitos, endinheirados ou necessitados, baixou o desespero. E por outro lado, felizmente, brotou também o sentimento de compaixão e solidariedade, que tem salvado muita gente da miséria e da fome. Mas a situação requer equilíbrio, e, principalmente senso de coletividade. Uma nova luz será lançada em discussões cruciais neste momento, como a abertura ou não do comércio, quando a maioria das pessoas passarem a enxergar a situação atual para além do seus próprios interesses.