Luigi Rotunno veio a Porto Seguro pela primeira vez em janeiro de 2000 e em maio de 2001 já estava de malas prontas para fixar residência na cidade, onde em 2013 iniciou a implantação do grupo La Torre. Em 2018 lançou o livro autobiográfico “Sem Bússolas-Inspirações de um empresário para enfrentar a pós-modernidade”, onde conta um pouco da sua trajetória de vida e aborda os instigantes desafios da vida empresarial. Nascido em Luxemburgo, atualmente, aos 50 anos, casado e pai de três filhos, o empresário é administrador do La Torre e pré-candidato a prefeito de Porto Seguro pelo PSDB. Uma missão, que para ele, é uma ponte entre o empreendedorismo e a política.
O que leva você a trocar a vida de empresário pela política? É possível conciliar as duas coisas?
Eu não diria que é uma troca, justamente porque existe um caminho intermediário entre as necessidades da política, com uma função mais empresarial da sua gestão, assim como o empreendedorismo pode trazer uma experiência e uma capacidade técnica que hoje faz falta no mundo da política. E a política traz para o empresário uma visão mais abrangente da sociedade. Tanto que no meu próprio livro e em minhas palestras eu me apresento sempre como um empreendedor social, um conceito com o qual me identifico. O empreendedorismo social, que olha para a sociedade levando em consideração que o bem estar do empresário só é alcançado se a sociedade em volta dele estiver bem. Hoje eu não faço política partidária, mas eu já faço política social há 20 anos. A diferença é que em uma pré-campanha passamos a falar também em política partidária.
Por falar nisso, qual é o seu partido?
O partido que eu escolhi é o PSDB, um partido que mais corresponde com a imagem do empresário, que tem uma visão de geração de emprego e renda, fomento da economia, uma posição liberal, mas sem excesso. Para mim, pela história que eu conheço da política brasileira, uma das pessoas que eu mais admiro é o Fernando Henrique Cardoso, uma personalidade política que eu respeito muito, que criou o Plano Real, um dos políticos que deu uma das viradas mais importantes para a estabilização da moeda.
E como você pretende financiar a sua campanha?
Pretendemos fazer uma campanha dentro dos limites orçamentários, com recursos de doações. A gente não pretende fazer uma campanha milionária, inclusive nós vamos lutar contra essa forma de fazer campanha, de jogar dinheiro em todo lugar, que é típica do que chamamos de velha política. Faremos uma campanha muito mais inspiracional, - de lideranças, convencendo pessoas - do que uma campanha baseada em valores financeiros. É um caminho muito mais difícil, mas se você quer mudar a realidade de uma cidade, você começa a fazer isso na pré-campanha. A forma como ele for eleito é que vai determinar a sua forma de administrar. Se um candidato se endividar de todas as maneiras, financeira e na troca de favores, promessas de secretarias, não será ele que irá administrar a cidade, mas as dívidas pessoais e financeiras que ele assumiu.
Você, que já foi secretário de Turismo, o que faria diferente do que já viu na história política de Porto Seguro?
Muita coisa. Não vou dizer tudo, porque o grande erro que vejo nos políticos é que cada vez que entra um novo prefeito, de olhos fechados, ele zera tudo que o antecessor fez, inclusive o que foi feito de bom. Se ganharmos essas eleições, e eu acho que existe essa probabilidade, nós vamos analisar as coisas boas que foram feitas nos últimos anos, inclusive pelo governo atual, porque nem tudo é ruim, e implementar uma nova visão. Agora, sem dúvida, vai ser muito diferente. Primeiro porque não sou centralizador, eu oriento as pessoas para tomadas de decisão, preparando lideranças competentes para cada cargo. Isso nós não vemos em governos anteriores, nós vemos prefeitos que assinam tudo. É preciso montar equipes, com procedimentos internos de controle, não estou falando de entregar a confiança cegamente para uma pessoa, tudo depende de uma controladoria, como nas empresas. Algumas dessas estratégias podem ser utilizadas na administração pública, para otimizar os gastos, evitar desperdícios. Dinheiro público é mais importante que dinheiro privado, porque dinheiro privado pertence à empresa e dinheiro público pertence ao povo.
Qual é o maior desafio de administrar uma cidade como Porto Seguro?
Temos dois nichos principais, primeiro, é que não tem como administrar uma cidade sem saber o que você está administrando. Nós não temos indicadores da nossa cidade, nem do ponto de vista humano. Nós não temos um cadastro detalhado da população para saber quantas crianças, quantos analfabetos, quantas pessoas carentes, quantas empregadas e desempregadas temos. Nenhum gestor consegue trabalhar sem números, nós precisamos de indicadores, que precisam ser atualizados no tempo mais curto possível. Como você faz um planejamento, se você não tem um controle populacional? E segundo nicho que é fundamental é a qualificação e a competência dos servidores públicos. Nenhum gestor consegue implementar políticas públicas de qualidade se ele não tiver uma equipe capacitada. Existem muitos funcionários públicos bons na nossa cidade, mas eles estão desorganizados. Eles não têm uma meta a cumprir, não trabalham em um sistema onde enxergam qual é o seu papel, o seu lugar. Precisamos urgentemente reorganizar isso, definindo cargos, critérios e metas, para termos um grupo que vai aplicar as políticas públicas com excelência e capacidade.
Em quatro anos é possível solucionar demandas que se arrastam há anos?
Você consegue sim. É claro que um plano de governo não pode ser para quatro anos, deveria ser para oito, 12 anos. Não é a minha pretensão. Sinceramente, sou contra a reeleição, e acho que a minha missão é de fazer o melhor para preparar sucessores e deixar a prefeitura dotada de mecanismos para que o próximo gestor tenha muitas dificuldades em fazer as coisas fora da lei. Os sistemas precisam estar bem amarrados.
É possível prever uma data para a retomada do turismo em Porto Seguro?
Eu acabei de receber o último estudo da Fundação Getúlio Vargas e se a gente se basear nesse estudo da FGV, a retomada em si, para que as empresas de turismo saiam do vermelho, o prazo previsto é para julho do ano que vem. Agora nós temos planos de reabrir, que são constantemente reavaliados e a data mais otimista é 1º de julho. Mas o que é contraditório dentro do nosso mercado é que, por exemplo, não há turismo possível se a malha aérea não retornar. A partir do momento que o aéreo voltar a operar, os hotéis poderão reabrir, mesmo com baixo volume. Nós dependemos 100% da malha aérea. Tem o turismo regional, mas o regional não vai reagir enquanto não reagir a malha aérea, porque aí reage a hospedagem. O turismo é uma engrenagem e uma atividade puxa a outra. Agora o que é muito injusto neste momento, é que, por decreto, os hotéis estão todos fechados. E a gente vê casas sendo alugadas por plataformas em nossa região. Isso é escandaloso. A gente vê jatinhos vindo de São Paulo, com todo o respeito, mas o primeiro caso de Covid-19 em nossa região veio em um jatinho particular e nós continuamos a deixar esse tipo de turismo vir pra cá. Isso é inadmissível, porque qualquer avião que pousa no aeroporto deveria ser fiscalizado.
Quais serão os principais desafios na pós-pandemia?
Depois dessa Covid-19 nós vamos acordar em uma Porto Seguro quebrada. Todos os dias estão sendo fechadas empresas em nossa cidade. Nós precisamos pensar que os futuros gestores, seja lá quem for, precisão de muita habilidade para a retomada da atividade econômica em nossa cidade, isso é fundamental. Não é o assistencialismo, unicamente, que vai devolver o futuro de Porto Seguro, mas sim a geração de empregos, a retomada do mercado de turismo e a geração de outros tipos de indústria. Vamos precisar de um governo com um espírito de facilitar o empreendedorismo em nossa cidade, porque é muito difícil empreender em Porto Seguro, existem empecilhos por todo lado. Essa é uma trava que é fundamental tirar nesse município.
E a solução seria...
Construir uma imagem de confiança em Porto Seguro e principalmente, criar o orgulho de ser porto-segurense. A população tem que se orgulhar da sua cidade, porque se o morador não se tornar o maior advogado da sua cidade, não tem defesa que aguente.