Fundada há cerca de dois meses, a Ecolife Reciclagem, empresa de coleta e reciclagem de resíduos, vem dando uma nova esperança a moradores de Trancoso e Arraial d’Ajuda, na preservação do meio ambiente. A adesão ao trabalho de coleta seletiva e reaproveitamento de produtos já se faz notar com a participação de quase 300 parceiros só nessas localidades.
Dolores Gatto é paulista e casada com o italiano David Crotti. Moram há oito anos em Trancoso e têm a reciclagem como filosofia de vida, há 12 anos. Ela afirma que David foi quem apresentou a prática da reciclagem, que é natural no cotidiano europeu. Em Trancoso, ela tem uma empresa de eventos - Amor e Produções – e teve a iniciativa de, há cerca de seis anos, implementar reciclagem nos casamentos. “Fui a primeira cerimonialista a fazer isso, devido a um pedido do amigo Ronaldo Neres, que foi o pioneiro em Trancoso com a reciclagem dos resíduos”, conta.
Mas a grande oportunidade de transformar as habilidades em atividade econômica surgiu no cenário de pandemia do Covid-19. “Devido ao meu trabalho de eventos estar totalmente parado, aguardamos um momento e, como a gente viu que as coisas não melhoravam, eu tive que me reinventar”. A necessidade de fazer um folheto explicativo sobre a reciclagem, a pedido de Ronaldo, levou Dolores a pesquisar a fundo e se apaixonar pelo assunto, a ponto de convidar o marido a entrar como sócio investidor. “Quando estudei sobre o assunto, vi que é um trabalho maravilhoso, bonito, se você fizer bem feito, consegue se estruturar, gerar empregos, fazer o bem para o planeta e para a pessoas. É como semear uma plantinha do bem em cada pessoa”, diz.
David aceitou investir no novo negócio. “Graças a ele, eu pude começar a Ecolife, junto com o Ronaldo, que é pioneiro, e a Carla Andrade, grande parceira, primeira funcionária da minha outra empresa, uma pessoa extremamente confiável, que está tocando a Ecolife para mim, já que estou na Itália, nesse período de pandemia”.
Como funcionam as parcerias
Com sede em Trancoso, o trabalho da Ecolife é oferecer coleta seletiva, sem custo, de plástico, papel, metal, vidro, elétricos e eletrônicos, e incentivar as pessoas a fazerem essa coleta, levando até os ecopontos, onde o material é recolhido. Atualmente são dois ecopontos: um na rua Tancredo Neves e outro na Farmácia Omesca. “A gente está buscando novas parcerias para ecopontos. E nosso slogan é: ‘Basta dizer sim e fazer o seu cadastro’”.
Inicialmente, as coletas estão sendo pontuais devido ao mapeamento de todos os parceiros; posteriormente, vai ser feita a programação de coleta em cada bairro. “Por enquanto, as pessoas escrevem dizendo que têm material para coletar e a gente dá alerta às pessoas vizinhas, que passam coletando no roteiro”.Ao todo, em Trancoso já há 120 parceiros e em Arraial d’Ajuda, 150. “Realmente é bastante gente! Estamos surpresos com a parceria. Agora a gente está incentivando que cada parceiro traga mais uma pessoa”. Ela diz que o fato de a empresa não cobrar o serviço de coleta ajudou no grande número de adesões.
A atividade gera renda direta para os catadores, de quem é comprada parte do material a ser reciclado. No bairro do Sapirara fica o depósito e outro já está sendo construído, devido à demanda, que envolve a separação minuciosa do material, prensa e posterior envio para Eunápolis, que centraliza todo o material recolhido na região e de onde vai para as indústrias em Salvador, Rio de Janeiro/RJ ou Vitória/ES. Essas grandes indústrias transformam todo esse material em matéria-prima para encaminhar novamente para as outras indústrias, de onde partirão novos produtos para o consumidor. E assim se fecha o ciclo da logística reversa, que envolve a devolução de embalagens ou outros materiais, desde o ponto de consumo até ao local de origem, para reutilização ecológica.
Dolores diz que os planos para o pós-pandemia são de voltar para o Brasil e segmentar a empresa. Os sócios já estudam a implementação em Caraíva e Porto Seguro. Atualmente, os parceiros são casas, pousadas, pessoas físicas, estabelecimentos comerciais e supermercados, mas o objetivo é fazer um trabalho de conscientização também junto às pessoas de baixa renda, mostrando que “o material jogado fora tem um valor e que tem um comprador aqui na região. É um trabalho de formiguinha”.