O paradoxo da pressa e calma

Lorena Bomfim

Dentre as várias lições que a maternidade me ensinou, talvez a que julgo mais importante, foi que a pressa e a calma são antagonistas.

Talvez na teoria isso lhe pareça óbvio, mas na vivência carregada de emoção e imediatismo, tudo se confunde e nada é tão lógico assim.

Você vive a se conflitar entre viver ou esperar a vida passar, entre correr e respirar, entre acelerar ou simplesmente parar.

Anseia por viver e tem pressa para amar, para desbravar, para conquistar.

E o paradoxo não tem fim, você vive a se questionar, se vai viver ou simplesmente replicar o que os outros acreditam ser bom para você, a vida que deve viver ou simplesmente se deve o incêndio alheio apagar.

Como se não bastasse sua própria contradição, ainda vem os padrões e pitacos te consumir, enquanto você só precisava de cuidados, descanso e uma noite inteira dormir.

Você tem que se arrumar, se não o marido vai aprontar, faz dieta para seu corpo voltar, academia já passou dá hora de dá as caras por lá, vai amamentar, já tá na hora de parar, um mundo de mandos e desmandos.

Afinal você virou mãe e não pode deixar de ser mulher, o que seria esse padrão de feminilidade de mulherão da porra que insiste as mentes perturbadas indagar?

Se tem padrão, modelo a seguir, foi inventado por alguém e provavelmente esse alguém não é você, com suas particularidades e desejos.

Desde a gestação vivemos relatos de uma maratona sem fim, do positivo à pressa para parir, do parir a pressa para nascer, do nascer à pressa para crescer, aí ela cresce e se pede para o tempo retroceder, contraditório e irônico.

É tanta pressa para viver que sem perceber não viveu, e onde você estava enquanto sua vida acontecia, o que você realmente quis, o que você de fato desejou a pressa foi tanta em viver, que a vida só passou, sem que ao mesmo tenha vivido, sentido, se permitido.

A maternidade me ensinou que pausas são necessárias, que antes do passo a frente dá, é necessário 2 recuar,  que pausas nos conectam com o que se quer e o que realmente se precisa, que as pausas nos restabelece quando a mente pede calma, quando o corpo pede alma e nos mostra que a vida é verdadeiramente rara.


 Lorena Bomfim é doula, mãe, educadora perinatal e consultora em amamentação. Escreve sobre os diversos temas do mundo materno infantil, além de lives semanais no Instagram pelo @amadrinhar. (Foto: Reprodução)

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