“Porto Seguro vai largar na frente nessa corrida pela retomada do turismo”

Publicada na edição 422 do Jornal do Sol

 

Entrevista: Paulo César Magalhães

 

Essa é a expectativa do secretário de Turismo de Porto Seguro, Paulo César Magalhães, que se orgulha de ter dedicado mais de um terço de sua vida ao turismo de um destino, que ele conhece como ninguém. Do alto de sua experiência, PC acredita que Porto Seguro tem potencial de sobra para voltar aos primeiros lugares no ranking nacional. Desde que haja paciência, planejamento e o cumprimento de todos os protocolos de segurança em saúde. Nessa entrevista ele fala do longo caminho percorrido até chegar a esse processo de reabertura e de questões como a reação das operadoras, os prejuízos e perspectivas para o setor que gira a roda da economia na cidade.

Depois de muita expectativa, a cidade começa a abrir as portas para o turismo. Na sua opinião, como o setor irá reagir?

Estamos a quatro meses e meio de fechamento da cidade para o turismo, um período muito longo para quem nunca passou por uma experiência dessa. Desde 15 de julho nós demos início a essa abertura para os hotéis e depois os restaurantes e barracas de praia, com o enquadramento em nossos protocolos e as adequações necessárias para obtenção do selo de autorização. Agora, que estamos tendo um alívio com relação às UTIs, podemos promover uma reabertura maior. Foi um período muito difícil de superar, já que Porto Seguro é uma cidade muito pujante, que ao logo do ano tem uma movimentação, que é considerada de média e alta temporada; nós não temos mais baixa temporada aqui, e de uma hora pra outra, viver uma nova realidade, totalmente diferente de tudo o que já vivemos até hoje, foi realmente muito difícil. Isso exigiu uma readaptação de todos, inclusive da prefeitura. Passamos por um período de muita pressão, muita cobrança e muito trabalho, para chegarmos agora à possibilidade de reabrir.  O norte que a prefeita Cláudia sempre nos deu é de que deveríamos trabalhar preservando a saúde de nossos moradores, colaboradores e também dos turistas, o que pautou a construção do nosso programa Porto Mais Seguro.

Qual é o tamanho do prejuízo para o segmento turístico?

Eu sempre faço o cálculo de qual é o PIB anual do turismo em Porto Seguro. E o último cálculo que fiz, eu cheguei ao montante de R$ 2,5 bilhões. Considerando que ficamos quatro meses e meio fechados, estamos falando da perda de um terço do valor desse PIB. Então podemos dizer que R$ 900 milhões deixaram de ser faturados nesse período e isso para Porto Seguro é uma perda extremamente significativa e vai nos custar muito caro a recuperação disso e a superação dessa fase. Esse valor já foi perdido e recuperá-lo é impossível. O que nós vamos ter que trabalhar muito daqui para frente é a recuperação do turismo de Porto Seguro, para que a gente possa ir elevando o nosso PIB gradativamente para que daqui a dois anos possamos chegar aos valores de 2019.

A ansiedade é grande no setor, como lidar com essa pressão?

A ansiedade nesse momento seria normal. Só que esse conjunto de problemas jogou a ansiedade lá pra cima e realmente tem sido muito difícil administrar isso. Como eu sempre falo, Porto Seguro tem 150 mil secretários de Turismo, assim como o Brasil tem 210 milhões de técnicos de futebol. Então, todo mundo tem uma fórmula, e sem querer criticar, eu procuro ouvir e filtrar isso. Só que muitas vezes, essas sugestões e ideias trazem em seu bojo o interesse próprio e nós na Secretaria de Turismo, assim como a prefeita, nunca pensamos unilateralmente. Nós precisamos ter uma visão conjunta e pensar na coletividade.

Quais os diferenciais de Porto Seguro para disputar o mercado nessa retomada?

Nós sempre tivemos uma demanda e uma oferta muito forte no setor aéreo, com voos diretos dos principais polos emissores, sejam regulares ou de fretamento. Somos o primeiro destino do Nordeste em termos de distância e tempo de voo para esses polos emissores e, portanto, já temos esse privilégio. Além disso, nós vínhamos de uma vantagem muito grande de estar nas primeiras colocações de desejo e demanda no Réveillon e Carnaval; agora formos eleitos pelo segundo ano, pela Trip Advisor como o destino Nº 1 no Brasil e na América Latina. Porto Seguro está sempre na mente do cliente e do agente de viagem, na hora de vender. Isso nos dá uma grande vantagem. E toda a nossa estratégia de retomada, promoção e divulgação, além do ponto de vista da segurança em saúde, nós estamos trabalhando muito o redespertar desse desejo, para que possamos dar o start para que a pessoa diga: “boa ideia, o mercado está reabrindo, vou para Porto Seguro, é mais próximo, tem uma hotelaria muito boa e com preços excepcionais, que possui um conjunto de atrativos que vai me proporcionar a oportunidade de extravasar esses quatro meses de confinamento”. É uma cidade muito carismática, muito alegre, muito festeira. Então eu acho que Porto Seguro realmente vai continuar sendo uma cidade abençoada por Deus e que vamos conseguir largar na frente, nessa corrida que está começando agora.  É uma corrida intensa, onde muitos competidores irão usar armas não convencionais para conquistar o mercado, mas nós estamos preparados, firmes e fortes, com um programa de retomada, que é o Porto mais Seguro.

A cidade está preparada para essa retomada?

A preparação para a obtenção do selo nos colocou em uma grande vantagem em relação a outras cidades. Por exemplo, nós tivemos aqui duas seleções da Copa do Mundo, que nos exigiu a preparação muito intensa de um plano, que foi e foi uma escola para aprendermos a fazer esse tipo de planejamento. E isso foi o resultado de um trabalho conjunto com outras secretarias, principalmente a Secretaria de Saúde, que comandou o processo, e a Secretaria de Turismo assumiu a coordenação desse trabalho através da minha equipe – Patrícia, Leo, Andriva, Sérgio, enfim de todos que colaboraram de forma decisiva para isso. E chegamos ao plano, que tem recebido muitos elogios para Porto Seguro, porque realmente nós fizemos um trabalho excepcional, comparando ao que se faz em todo o Brasil. O importante é dizer que o nosso plano teve a participação ativa de todos os segmentos turísticos, com as entidades nos oferecendo subsídios, sugestões, colaboração, idéias, para que fizéssemos um plano que atendesse aos requisitos de segurança em saúde, mas que também não fosse inviável a sua implantação. E o plano não é engessado. A todo momento é possível fazer ajustes e atualizações, de forma a transformá-lo no melhor plano do Brasil.

E como está a adesão dos diversos segmentos para a obtenção do selo?

A adesão tem sido muito boa, hoje mais de 60 empreendimentos da área hoteleira já têm o selo e uma quantidade maior que essa de empresas estão se readequando e sendo vistoriadas. Nos próximos dias, teremos uma quantidade muito grande de hotéis e pousadas com o selo. No hotsite do programa (portoseguro.ba.gov.br/portomaisseguro) nós atualizamos diariamente a relação dos hotéis, restaurantes, barracas de praia e receptivos que já têm o selo. Portanto, se o turista entrar no nosso hotsite ele pode saber facilmente se o hotel que ele quer vir, está com o selo. Mas de uma forma geral, até me surpreendeu, porque diante do rigor que nós trabalhamos, eu achava até mais difícil a obtenção do selo. Mas quando eu olho e vejo a quantidade de empresas que já aderiram eu fico feliz, porque é sinal que nós fizemos um bom trabalho, sem engessar nenhuma empresa e sem criar dificuldades para a pessoa se adequar e voltar a trabalhar.  E todas as orientações necessárias estão ali.

Como fica a situação de Porto Seguro junto às principais operadoras do país?

Eu tenho conversado semanalmente com todas elas e a gente percebe que Porto Seguro é a número 1 de vendas de várias operadoras, como a CVC, a Forma, a Azul e outras. As expectativas deles, para nós, são as melhores possíveis, mas assim como no resto do mundo, não vai ser de um momento para outro que vamos retomar. Todas estão trabalhando com voos regulares e eu acredito que a partir de agosto, terão fluxos para Porto Seguro, ainda pequenos, mas vão recomeçar. Aí precisamos estar sempre atentos. Atualizando as nossas estratégias e adequando as nossas ações, eu tenho certeza que será uma retomada lenta e gradual, mas positiva.  A demora da nossa reabertura também se deu porque estávamos vendo muitos destinos no Brasil abrindo e fechando. E nós queremos que Porto Seguro siga em uma direção diferente. Abrindo gradativamente, mas com fé em Deus e a ajuda do grande arquiteto do universo, que não seja um processo reversível, mas constante.

Você foi quantas vezes secretário de Turismo?

Eu entrei pela primeira vez na Secretaria de Turismo em 1997. Ocupei o cargo durante os quatro últimos governos e inclusive na gestão Cláudia Oliveira eu ocupei a secretaria tanto no primeiro quanto no segundo mandato. Portanto, eu estou há 24 anos nessa história, mais de um terço da minha vida eu dediquei ao turismo de Porto Seguro. E eu acredito que essa estada na secretaria só está sendo possibilitada em função do resultado do trabalho que a gente vem desenvolvendo e com uma equipe muito boa que eu sempre tive. A secretaria hoje tem um trabalho extremamente profissional, baseado em planejamento estratégico. Nós temos hoje um Fundo de Turismo que nos garante recursos para uma série de ações, que no passado eram mais difíceis, mas que sempre aconteceram baseadas na ajuda e na participação do empresariado, que nunca se furtou a me apoiar e a aportar recursos para as ações. Sempre eu agradeço muito, principalmente à hotelaria, que sempre deu um apoio fantástico que pude contar.  Ao longo desse trabalho isso possibilitou que Porto Seguro se mantivesse nas primeiras posições do ranking do turismo nacional, além de algumas posições fantásticas também no turismo internacional.  Não podemos deixar de mencionar o Conselho de Turismo, que tem nos apoiado em nossas propostas e iniciativas, não apenas nas ações, como na utilização dos recursos. Quando a gente apresenta propostas, após a discussão e detalhamento a respeito, nós temos conseguido aprovar essas propostas para serem realizadas.

Com toda a sua experiência, quando você acha que o turismo em Porto Seguro vai voltar com a força de antes da pandemia?

Se Porto Seguro continuar com números decrescentes em relação à Covid, se a gente tiver a vacina a partir muito em breve, se tivermos a inteligência de desenvolver um trabalho estratégico, sério, eficiente, eu acredito que a partir do segundo semestre do ano que vem estaremos caminhando relativamente bem em termos de ocupação da cidade.   Agora, é indispensável a paciência e o entendimento das pessoas da cidade sobre a gravidade da situação, a necessidade de estratégias e a sabedoria de que a retomada seja muito bem elaborada para que a gente não fique no efeito vai e volta. E o entendimento da população, de que precisamos continuar tomando todos os cuidados. Dando bom exemplo aos nossos visitantes, exigindo que todos sigam os protocolos, nós vamos ter um caso de sucesso novamente em Porto Seguro.  Agora se desconsiderarmos essas questões, nós vamos ter problemas sérios pela frente.