Coroa Vermelha: shopping e museu indígenas precisam de manutenção

Águas mornas e calmas, lugar de descanso e relaxamento. Assim é a Coroa Vermelha aos olhos do turista ou de quem vai lá simplesmente curtir uma praia ou comer um petisco no fim de semana. Mais de duas décadas depois de sua demarcação como reserva indígena, o local clama por maior atenção das autoridades.

Demarcada em 1997 e com 1.728 hectares de terra, a Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, é dividida em três glebas. A gleba A, que é a parte urbana do distrito, onde ficam sediadas 927 famílias; a gleba B, que é a área de agricultura, com mais de 100 famílias; e a gleba D, que corresponde à área da Reserva da Jaqueira, com 827 de hectares de preservação ambiental, utilizadas para o etno turismo pelas famílias que ali moram. As informações são do Cacique Zeca Pataxó, atual secretário de Assuntos Indígenas de Porto Seguro, que já ocupou a mesma cadeira em Cabrália, e é um dos principais líderes indígenas da Costa do Descobrimento. 

Os quase cinco mil indígenas que ocupam a parte da praia vivem atualmente do artesanato e do comércio ali mesmo, no entorno da emblemática cruz, no Centro de Coroa Vermelha e em frente a uma das praias mais visitadas da região. É também das mercadorias vendidas no Shopping dos Índios que muitos tiram o seu sustento. Desde que foi inaugurado, juntamente com o Museu do Índio, durante os festejos dos 500 anos de Brasil, os prédios nunca passaram por reforma ou manutenção, segundo o cacique. Ele considerou as iniciativas um benefício para a população, mas diz que foram esquecidos. “Tanto pelo governo Federal quanto pelo Estadual. Até hoje, estamos com 19 anos que foram construídos o shopping e o museu, sem nenhuma manutenção, e estamos precisando disso o mais rápido possível”.

Barracas irregulares

Além disso, na beira da praia, surgiram algumas barracas que se misturam com a paisagem e não atendem às regras de preservação ambiental. “Nós temos TAC (Termo de Ajuste de Conduta) assinado pelo Ministério Público Federal, Prefeitura Municipal de Santa Cruz Cabrália, Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Funai (Fundação Nacional do Índio), e vários outros órgãos, que era para ter a manutenção do Parque Indígena de Coroa Vermelha”, informa.

Segundo Zeca Pataxó, cada um tinha sua área de atuação e o que fazer na sua comunidade. “Mas nenhuma destas instituições cumpriu com seus deveres. E acabou tendo algumas construções irregulares que, agora junto com o Ministério Público Federal, está se tentando uma forma de fazer uma adequação da área próxima à cruz”.

Sobre o turismo, o cacique afirma que é suficiente para atender a população da Aldeia de Coroa Vermelha. “No Verão, a gente costuma receber quase 3 mil turistas por dia. Na baixa temporada, a gente recebe na faixa de 500 a 100 turistas diariamente”. Mas a falta de manutenção local também se reflete nos serviços prestados e na preservação ambiental. Para minimizar este problema, o cacique afirmou que as lideranças indígenas procuram desenvolver um trabalho de conscientização com a comunidade. E que já foi encaminhado, para diversos órgãos competentes, o pedido de manutenção, inclusive para o Governo do Estado e Conder. “Mas até agora a gente não recebeu essa conclusão”.