Catadores impedidos de trabalhar fazem protesto em frente ao lixão

Dia 28/12/20, logo no início da manhã, catadores de lixo de Porto Seguro realizaram um protesto em frente ao portão do lixão onde trabalham. Eles afirmam que a atual gestão municipal fechou os portões do local, impedindo-os de realizarem suas atividades de coleta do material reciclável, sem aviso prévio ou sem qualquer acordo.

O lixão fica situado na BR 367, na Estrada da Veracel, após o entroncamento de Vale Verde, próximo ao Pesque e Pague. A manifestação ocorreu de forma pacífica, com cartazes pedindo solução. “Queremos o nosso trabalho de volta. Não temos com o que sobreviver. Sobrevivemos daquele aterro e eles tiraram o pão de cada dia de nossa mão”, disse uma catadora.

Starles Nunes Santos, representante dos catadores, afirma que a Polícia Militar e a Guarda Municipal estiveram no local durante a manifestação. “A polícia deu prazo até às 15h para que a gente se retire daqui. É um protesto pacífico, ninguém está bagunçando ou fazendo algo de errado. Só queremos reivindicar o nosso direito”, diz Starles. Segundo ele, a prefeitura “fechou contrato com a Naturalle [empresa que administra o lixo coletado]. Segundo um representante da Naturalle, preguntaram para a prefeitura como faria com os catadores e a prefeitura não respondeu”. A empresa é a mesma que recolhe lixo de Eunápolis e Santa Cruz Cabrália.

“Tem gente criada aqui dentro. Eu por exemplo, tenho 26 anos e minha mãe trabalha aqui há 15 anos. É daqui que ela tirou sustento durante todo esse tempo para me criar”, afirma Starles. Antes da manifestação, o representante dos catadores havia gravado um vídeo em que relata e lamenta a situação. O vídeo foi publicado nas redes sociais. “Estamos pedindo ajuda a quem puder nos ajudar. Infelizmente, na última quarta-feira, a prefeita deu ordem de que fechasse o lixão de Porto Seguro e ficou de dar resposta para a agente mas não deu parecer. Estamos em 56 a 58 famílias que dependem disso aqui, Isso tudo é material que a gente retira do lixo. O que pra vocês é lixo, é o nosso sustento, de onde tiramos o nosso pão de cada dia”.

No vídeo, Starles pede ajuda ao poder público e que os catadores tenham o direito de trabalhar. “Estamos buscando da prefeita Cláudia Oliveira uma resposta. Ela nos tratou como cachorro. Nós somos cadastrados para trabalhar aqui, temos papéis provando isto. Eles são conscientes que tem essas famílias aqui. Infelizmente em final de mandato ela fez isso aí com a gente. Estamos aqui sem saber o que fazer, todo mundo desesperado. Somos catadores de material reciclável. Estamos aqui prestando um serviço para a natureza, não estamos defendendo a natureza. Somos a natureza se defendendo”, diz.

Starles afirma que o secretário municipal de Serviços Públicos, Fábio Souto, não deu nenhuma explicação sobre o ocorrido. “Que no bom senso a gente possa, com diálogo, ter uma resposta da prefeita Cláudia Oliveira. Já tem mais de oito dias que eles trancaram o portão dizendo que voltariam à tarde para conversar com a gente, e até hoje não voltaram para dar satisfação a ninguém”. O representante dos catadores afirmou ainda que, durante a manifestação, eles próprios impediram a entrada dos caminhões de lixo no local. E que 70 pessoas presentes no protesto representavam as 70 famílias desamparadas.

À noite, de acordo com Starles, os catadores receberam informação de que o novo secretário da pasta, Luciano, garantiu que os catadores voltariam a trabalhar no local, assim que a nova gestão municipal tomasse posse do governo, a partir de 1º de janeiro de 2021.