Enfrentamento ao trabalho infantil é coisa de gente grande


Em Porto Seguro, um projeto pioneiro de enfrentamento à exploração de crianças está mapeando os números para tentar livrá-las desse e de outros tipos de abuso. A coragem e a iniciativa são do Instituto Mãe Terra, uma organização sem fins lucrativos, que atua há 11 anos na Costa do Descobrimento. 12 de junho é o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. Para marcar a data, em parceria com a prefeitura, a entidade realizou uma passeata pelas ruas do centro da cidade.
Em todo o estado, milhares de crianças têm os seus direitos fundamentais violados, sendo submetidas a condições semelhantes ao trabalho escravo. Um problema invisível, mas facilmente detectado por heróis da educação como o Instituto Mãe Terra, que trabalha em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Porto Seguro (CMDCA). Juntos, tiveram a aprovação do “Projeto Filhos da Terra: um despertar para a educação cidadã” na seleção pública de Apoio aos Fundos da Infância e da Adolescência da Fundação Itaú Social.
De acordo com Flaelma Almeida da Silva, coordenadora pedagógica, o projeto está dividido em três etapas e será executado em 12 meses. O foco são crianças de 6 a 11 anos de 80 escolas da rede municipal de ensino. A primeira etapa envolve um diagnóstico da realidade da criança por meio de trabalhos lúdicos, como a contação de uma estória que tem como personagem principal uma Cinderela que deseja estudar e se tornar professora. “Nesse momento – afirma Flaelma - elas dizem quais são seus sonhos e revelam traços do seu trabalho e do contexto familiar.”
Realizando sonhos
Na segunda etapa, a vernissage, as crianças vão para a oficina de arte, onde desenham o que sentem e o que vivem. O resultado é analisado por um psicólogo, que elabora um diagnóstico. A terceira fase é a implantação das atividades nos núcleos sócio-educativos para atender às crianças e à família. Nesse momento, de esperança e encantamento, a criança vai para o baile do futuro, onde a equipe do projeto lhe diz que seu sonho é possível, desde que ela esteja dentro da escola e se empenhe. A criança recebe o kit do futuro, com livrinhos do programa Itaú Social “Leia para uma criança” e outros atrativos como tinta guache, papel e lápis de cor. “E a gente mostra que a escola é um lugar lúdico, de crescimento, o mais importante de todo o reino, onde todo conhecimento pode ser reservado à criança e ela pode ser o que quiser, desde que ela busque a educação”, enfatiza Flaelma.
A divulgação do diagnóstico do trabalho infantil no município será feita em um seminário junto às escolas. O objetivo é reverter a idéia de que é mais digno ter crianças trabalhando, ao invés de elas estarem na escola. Os dados servirão de base para o Plano Municipal de Enfretamento ao Trabalho Infantil, que terá participação das instituições que formam a Rede de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Dados assustadores
Segundo o IBGE, em 2002, a Bahia teve 280 mil crianças oprimidas pelo monstro do trabalho infantil, ficando em primeiro lugar no país. Em 2015, os números baixaram para 71,7 mil crianças, ficando em segundo lugar, atrás apenas de Minas Gerais. “Por ser um trabalho na maioria das vezes invisível, nos deparamos com estruturas familiares e sociais insensíveis aos danos dessa violação para o desenvolvimento integral de nossas crianças e adolescentes. Há um longo caminho para assegurar a permanência desses meninos e meninas na escola”, conclui Flaelma Almeida. Quem sabe, os super-heróis da educação ajudem as crianças a encontrar o caminho para o desenvolvimento e lhes mostrem como levar outros amiguinhos para lá?