Mulheres vítimas de violência têm aulas de defesa pessoal

Uma iniciativa que promove diretamente a valorização da mulher está sendo colocada em prática no Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram) em Porto Seguro. Mulheres vítimas de violência se encontram, uma vez por mês, para receber aulas de defesa pessoal, ministradas por um professor da área, e os resultados são visíveis em pouco tempo.

Segundo a secretária de Assistência Social, Lívia Bittencourt, a sugestão partiu da titular da Deam (Delagacia da Mulher), a delegada Teronite Bezerra. E a iniciativa de implantação, pioneira no Estado da Bahia, foi do próprio Cram. “A gente entendeu que existia essa necessidade. Nos questionários sempre perguntamos se elas queriam aprender a se defender e elas diziam que sim”, afirmou Andréa Comenale, psicóloga e coordenadora do Centro.

As aulas já fazem parte das atividades ofertadas desde março de 2019. O instrutor, Agnaldo Rodrigues, é também conselheiro tutelar e professor de jiu jitsu e realiza o trabalho voluntariamente. Ele afirma que há uma mudança repentina e muito grande no comportamento das mulheres quando passam a ter aulas de defesa pessoal.

“Na primeira aula, elas vêm bem agressivas, como quem está com raiva. Eu converso muito e explico que precisa ter paciência para pegar a técnica, porque defesa pessoal é muito detalhe”.  Aos poucos, elas passam a se sentir melhor e deixam aquela agressividade inicial. “A aula é para tirar delas esse ódio, botar para fora essa mágoa e aprender coisas novas. O primeiro passo é se defender de uma possível agressão. Na terceira aula já está todo mundo fazendo amizade e participando mais”, conta.

Atualmente, são atendidas oito mulheres. De acordo com a psicóloga Andréa, elas amam as aulas.  “Pode estar chovendo, mas elas não faltam. Sentem-se muito mais seguras agora e relatam que não passariam mais pela situação de agressão”. A constatação é de que as técnicas são fáceis de aprender e de que é possível se livrar do agressor e se defender, não importa o tamanho ou a força dele.

 “São relatos de mulheres que viveram violência durante muito tempo e caladas. Quando chegam aqui é porque a violência psicológica já existe há muito mais tempo, além da violência física. Daí, vêm uma luz no fim do túnel e percebem que o corpo delas não precisa ser invadido. E que elas podem reagir a isso, se defender. Existe uma técnica para cada ataque e a técnica de defesa te ensina que não importa a força”, afirma a psicóloga.

Nos meses de agosto e setembro, dentro da Campanha Agosto Lilás, que faz referência ao combate à violência contra a mulher e à efetivação da Lei Maria da Penha, a equipe estendeu o atendimento aos territórios. Já foram realizadas oficinas sobre o assunto no bairro Bahianão e no distrito de Trancoso. Arraial d’Ajuda e Vera Cruz também receberão as oficinas.

O Cram

O Centro de Referência de Atendimento à Mulher é um espaço de acolhimento e atendimento humanizado às mulheres em situação de violência. Elas têm o atendimento individual com psicóloga, assistente social e advogada e participam de grupo em que são trabalhadas diversas temáticas como autoestima, empoderamento e autonomia.

O atendimento é sigiloso e também se estende à família da vítima e ao parceiro. “É um trabalho contínuo. O homem agride a mulher quando ele presenciou, desde pequeno, algum tipo de agressão no lar, com seus pais. A violência não existe só em família de baixa renda. Existe principalmente na classe alta”, disse Lívia Bittencourt, destacando a queda nos índices de violência doméstica registrados em Porto Seguro. Ela ressaltou, ainda, que a rede de proteção formada pela Deam, Cram, Polícias Civil e Militar, Ministério Público e Juizado Especial Vara da Família é o que faz o trabalho ter consistência e bons resultados.